sábado, junho 10, 2006

Acontece...

Se há dias de tristeza profissional, hoje foi um desses. Dizem que devemos ser frios, que não nos podemos deixar envolver, que temos que ser racionais, mas por uma, ou outra razão, isso deixa de ter significado em dias como o de hoje.
Quem me conhece como veterinário sabe o quanto prezo os donos que conseguem fazer dos seus animais exemplos de comportamento. Há poucas coisas mais impressionantes do que a ligação que algins donos conseguem ter com os seus bichos. Hoje fui obrigado a separar fisicamente uma dessas ligações.
Há poucos cães como os Labradores, não há muitos como o Boris.
Os donos dizem muitas vezes que só lhes falta falar para serem gente, ao Boris só faltava a fala para ser um amigo...ou se calhar isso nem é precido. Se não tenho muitos amigos de duas patas, os de quatro são alguns e hoje foi um dia em que perdi um deles.
Digo, meio no gozo, meio a sério, que os bichos maus nunca estão doentes e que aos bons acontece tudo. O Boris tinha Leishmaniose e o único sinal clínico que deu foi não ter apetite, o que é um acto estranho para um Labrador. Há cerca de 15 dias as análises confirmaram uma insuficiência renal, desde lá para cá fiz tudo o que estava ao meu alcance, mas não deu mais. Falei com os donos e ninguém queria vê-lo a sofrer. Já vi alguns para saber o desfecho desta combinação de doenças e a este eu não o queria ver como os outros.
Hoje o Boris deixou de abanar a cauda e de se encostar a mim para pedir festas, hoje o Boris deixou de se sentar para comer biscoitos, hoje eu e o Boris despedimo-nos.
Se os cães pudessem chorar, hoje teriamos sido dois a fazê-lo.
Tchau puto!