Familias
Sempre me habituei à ideia de que os familiares, infelizmente, não se podem escolher. Assim como em qualquer inscrição, quando chegamos ao Mundo somos premiados com alguns brindes que seriam colocados num caixote do lixo mais próximo se lá coubessem. Os amigos podem ser escolhidos, a família é que é mais difícil.
Em todos os agregados familiares, existem zonas desagregadas. Zonas pelas quais não queremos nem ter alguma forma de contacto e este, quando existe, é sempre forçado e trágico.
Escrevo sobre isto porque fui ver "Little Miss Sunshine". Um filme em que todos querem ser o mais normais possível, conseguindo ser uma família do mais estranho que se arranja. Sem cair no ridículo, todos os personagens são tem uma dimensão de estranheza que os ultrapassa e conseguem construir mesmo assim uma família credível. Numa época em que o conceito de núcleo familiar não é o mesmo de há uns 10 anos atrás, nem está a caminhar para o conservadorismo, as famílias desfuncionais existem em todo o lado. O problema esta questão é a relutância que a maioria das pessoas consegue ter em olhar para o seu próprio umbigo e encontrar soluções para os problemas que estão dentro de casa. Já para não falar nos seus próprios problemas.
Os cinco euros do bilhete são bem empregues numa exploração trágico-cómica de uma família que poderia ser a de qualquer um ou mesmo de ninguém.
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