quarta-feira, março 18, 2009

Exigências

Quem me conhece sabe que não acho grande graça a compadrios e que as pessoas, num mundo perfeito, deviam prestar provas e garantir os lugares onde estão por mérito.
Vem isto a propósito de um episódio que se passou comigo esta semana.
O Lee é um Boxer, tem 10 anos e entrou-me no consultório porque não queria descer escadas e tropeçava. Exame físico relativamente normal com uma pequena excepção... O Lee não vi de um olho, não tinha reflexo de ameaça, não seguia objectos, tropeçava em coisas com o olho normal tapado. Contudo tinha reflexo pupilar normal e o fundo ocular estava porreiro, igual ao do outro olho.
Perante o quadro recomendei aos proprietários consulta de referência na "faculdade" para, escrevi na carta de referência, exames complementares que não posso realizar na clínica.
Ora perante a descrição da cegueira, pensei que o animal fosse encaminhado para uma consulta de referência de oftalmologia. Mas não!
Recebo um telefonema de uma colega a dizer que não achava que o cão visse tão mal e que achava que o cão precisava de fazer uma radiografia à anca porque poderia ter displasia... Fiquei parvo com o que estava a ouvir...
Percebi que não foi a uma consulta de referência e que na consulta dita geral estavam em crer que o que o cão tinha era um problema na anca...
Explodi ao telefone! Só me faltou chamar explicitamente incompetente à senhora veterinária da faculdade... Faltou mesmo um bocadinho assim...
De qualquer forma, dizia a mesma senhora, não podiam fazer a radiografia porque o aparelho estava estragado.
Já é mau uma "faculdade" não ter material básico, mas o mais básico de tudo e não ter pessoal qualificado a dar a cara pelo ensino da medicina veterinária em Portugal. Quem está na faculdade que me desculpe, mas eu nunca vi um concurso público de entrada nos quadros. Os concursos dos compadrios e das cunhas são os únicos que conheço e embora admita que há bons clínicos, existem também nódoas autênticas. Das que deveriam ter vergonha de trabalhar num sítio onde se ensinam outros a fazer as mesmas asneiras.
Em resumo o cão piorou, ficou descoordenado e hoje lá fez o que eu, depois da conversa telefónica, expliquei à senhora veterinária. A electrorretinografia e a TAC.
Hoje o Lee dava tudo para não ter uma massa de 2 cm por 1,5 encostada ao cerebelo. Eu dava tudo para que a senhora veterinária me explicasse porque é que pensou em fazer uma radiografia de anca a um cão com um tumor intracraneano.
Segundo palavras sábias de quem faz Yoga e tem uma calma interior assinalável, eu não percebi o problema. Se calhar o cão tinha displasia, caiu, bateu com o olho e cegou.
Talvez tenha sido o raciocínio da moça, não tenho grandes dúvidas...

1 Comments:

Blogger Fuzhong! said...

Mas só agora te apercebeste da nulidade que é aquele hospital?? Eu já tive o meu episódio explosivo ao telefone há uns anos atrás.
O caso que referes é em tudo idêntico ao que eu tive só que em vez de tumor cerebral era uma carcinoma pulmonar primário. Mas claro, as sumidades da medicina veterinária que por lá andam é que sabem se é displasia da anca ou pneumonia.
Asco!

1:24 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home